sábado, 15 de dezembro de 2007

Até tu, Fernando?

CMPF, PDE e Formação de Professores


O ministro da Educação Fernando Haddad soltou uma frase que eu não quero ouvir. Mas a frase chegou até aqui por meio de uma fonte confiável, a de Renata Cafardo no Estadão. Então, não tenho como não acreditar. A declaração dele é histórica. Diz ele que está “apreensivo” com a possível não aprovação da CPMF, pois o Brasil foi muito mal no exame do PISA e isso seria devido ao fato de nosso investimento em educação, por aluno, ser muito baixo, e o chamado Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE )poderá resolver isso, mas depende de recursos. Então, nos deixa concluir, que uma vez aprovada a CPMF haverá recursos e no próximo PISA não haverá competidor para nós.

Faz mais de trinta anos que trabalho com educação e com a análise da educação brasileira. Não consegui ver ligação entre CPMF e o nosso ensino. Telefonei para outros colegas que também se dedicam a isso. Também eles ficaram de boca aberta. Que a CPMF tenha se tornado a grande questão nacional mostra a nossa mediocridade política. Mas que, agora, o PDE ou qualquer outra tentativa de melhorar nossa educação possa ter alguma coisa a ver com a CMPF, e que até o Fernando Haddad tenha entrado nessa cruzada do PT, é de deixar qualquer um triste.

O PDE é um plano que não funciona como plano. Não tem diretriz própria. É uma colcha de retalhos. Uma boa colcha de retalhos. Mas é retalho! E sua pedagogia não é ligada a qualquer diretriz vinda do meio da filosofia da educação; ela é inspirada no movimento do grupo capitaneado pelo empresário Gerdau, o “Todos Pela Educação”. A idéia desse grupo é o “faça você mesmo”. Tudo é empurrado para a tal da “sociedade civil” ou para a uma invenção chamada “comunidade”. Isso é o PDE. Não há um vínculo entre o PDE e os recursos de modo explícito na legislação vigente e no PDE. Portanto, entrar nessa de seguir o coro da desconhecida Dilma e do conhecidíssimo Lula e dizer, em tom quase de chantagem, que a não aprovação da CPMF é algo que poderia ser prejudicial para a educação, é algo que merece um só conselho: psicanálise ou, para não dizer tanto, repouso. O ministro está cansado. Só pode ser isso.

Todo tipo de imposto já foi colocado para a sociedade brasileira. E nós sabemos que nosso país tira mais de quem não tem do que de quem tem. A CPMF não foge a esta regra. Todos nós já vimos mais de 20 anos de democracia, em que todos os governos que nos forçaram a pagar mais taxas disseram que seria “para o bem da educação, saúde” e qualquer outra dessas coisas que Sarney chamava de “social”. Sim – era “tudo pelo social”. Qual o resultado? O resultado é o PISA: somos os últimos do exame. E não adianta o Fernando Haddad dizer que a vida vai começar só quando ele terminar de levar o PDE para todo canto (como se não existisse telefone, internet etc.), pois isso não o tira de estar dentro da história. E a história diz que já se foi um mandato do Lula e mais um ano, e NADA aconteceu para vermos melhorias.


Paulo Ghiraldelli Jr.
O Filósofo da Cidade de S.Paulo
Site www.ghiraldelli.pro.br

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