sábado, 31 de março de 2007

UMA LIÇÃO DE VIDA VALIOSÍSSIMA

Era hora da saída. Todos ansiosos para retornar ao lar e comer. Sem esperar, um gambá foi acusado injustamente por seus amigos de classe pelo mau cheiro que pairava no ar. Um vexame, a sala inteira olhando para ele e caçoando. O gambá não sabia onde se esconder, pensou em fingir-se de morto ou sair correndo. Contudo, somente ouvia as gargalhadas.

Triste e abatido, chegou ao lar e desabafou. O pai estava certo de que tinha sido seu filho, por isso achou graça no relato. Mas, logo, o riso virou raiva e, aos gritos, disse que ele não tinha mais jeito, que havia desistido de educá-lo, pois lhe desobedeceu expelindo cheiro em público.

Em uma bela noite, enquanto a casa dormia, o gambá pegou uma mala com seus pertences e saiu. Na sua mente não passava outra coisa a não ser o seu dia: cada momento, cada palavra, cada insulto. Assim, foi perdendo o gosto pela vida. Pensou em suicídio, porque talvez fosse a única forma de alívio possível. Porém, cansado de tudo, acabou pegando no sono...

Por sorte, um grilo estava passando pela vizinhança e o encontrou todo desconfortável, dormindo. Quando acordou, viu o grilo do seu lado e esbravejou:

– O que queres de mim? Não vês que não sirvo para nada? A minha presença só incomoda.

– Calma! O que fizeram a ti? – disse o grilo com a voz doce.

O gambá contou o ocorrido e se lamentando afirmou que queria ser como a vaca que dava carne e leite ou, então, como o arco-íris para pelo menos um dia embelezar a vista de alguém.

O grilo sabia o que estava acontecendo. No fundo, o gambá não queria se suicidar, mas sim viver uma vida que fosse bela e feliz. Querendo ajudá-lo, o grilo disse:

– Gambá, és novo ainda, por isso não aprendeu a lidar com as frustrações. És esperto e habilidoso, consegues subir numa árvore e pendurar-se pelo rabo como um macaco. Teu fedor não é uma característica negativa, é uma arma contra os inimigos que te perseguem. Voltas para casa, teu pai muito te quer. Não deixe algumas palavras te machucarem. Sê forte e valente.

E foi com essas sábias palavras que o gambá aprendeu a melhor de suas lições: lidar não com o sucesso, mas com as frustrações da vida.

sexta-feira, 30 de março de 2007

Relação entre Educação e Sociedade II

Pensando um pouco mais sobre esse assunto, percebi que, para esse título, deveria haver um subtítulo: “A função da escola”.

Assim, vamos tentar responder qual é a função da escola. E, para isso, veremos o que Émile Durkheim (1858-1917) pensava.

Ele afirma que “a sociedade não poderia existir sem que houvesse em seus membros certa homogeneidade...”. Essa ”homogeneidade” citada seria de pensamento, ou seja, todos que fazem parte da sociedade têm de pensar, até certo pondo, da mesma forma, senão a sociedade não existiria.

Podemos definir sociedade como um grupo de indivíduos que vivem por vontade própria sob normas comuns. Então, não seria possível essas normas comuns existir se todos pensassem de forma diferente, esses indivíduos nunca chegariam a um senso comum.

Esse seria o primeiro papel da escola: fazer a sociedade pensar da mesma forma e ter um estado mínimo ou comum de moralidade, intelectualidade, etc.

Porém, não seria saudável fazer todos os cidadãos pensarem homogeneamente, estudarem as mesmas matérias. Se assim fosse, iríamos progredir, se progredíssemos, em apenas uma área específica.

Desse modo, vemos o segundo papel da escola: fazer os alunos se especializarem em diferentes áreas para termos avanços diversificados.

quinta-feira, 29 de março de 2007

Relação entre Educação e Sociedade

Podemos observar que para cada época há uma maneira diferente de se educar, por exemplo, a maneira dos jesuítas, da ditadura, etc. Às vezes, essas diferenças não são tão visíveis quando comparamos épocas mais próximas. Isso porque os objetivos da educação praticamente não mudam. O que muda, quase que constantemente, são os enfoques; ora se preza pelo conteúdo da educação, isto é, somente a matéria dada em sala de aula, ora pela parte humanista, de os professores virarem pais, e assim por diante. Acredito que hoje se preze por esta última, já que os estudantes muitas vezes não têm uma família para os educarem ou lhes transmitirem o caráter de um cidadão exemplar – honesto e ciente de seus deveres.

O certo é que a educação se adapta às exigências do mercado de hoje, ou seja, se exigem pessoas maduras que sabem trabalhar em grupo, o papel da educação é fornecê-las. Se não fosse assim, não haveria a ascensão de um empregado, por exemplo. A educação não seria uma das chaves para a mudança de classe social.

Por isso, é que podemos dizer que a sociedade e a educação “andam juntas”. Nenhuma pode evoluir sem que a outra não a acompanhe.

Portanto, não existe uma educação certa ou errada, só a mais adequada para a época – sociedade.

quarta-feira, 28 de março de 2007

A INFLUÊNCIA ETERNA DA MODA

Não sou modelo, não trabalho em agências de modelos, não organizo desfiles, tampouco participo deles, não sou vendedor de roupas, nem me visto tão bem assim. Contudo, me pergunto: Qual é a utilidade da moda para mim, já que não dependo dela para viver? Deve ser a de fabricar roupas. Será que é possível alguém se vestir com alguma roupa que não esteve na moda? Talvez os índios. Mas não é a moda deles o uso de penas e folhas de árvores?

– Não, eu não uso roupa que está na moda. Uso uma camiseta regata, uma calça verde e malho um pouco. No fundo, quero ser igual ao Rambo.

Realmente, não podemos desprezar a influência do cinema na moda. Ou seria o contrário? Enfim, lembremo-nos da época em que todos fumavam, só porque os ricos, as estrelas, as “elites” fumavam. Houve até um período em que todos só comiam lanches naturais e iam à academia (antes fosse a escola filosófica de Platão).

– Mas, definitivamente, os adolescentes rebeldes não seguem a moda. Usam aquele moicano e calças rasgadas. Acham que estão nos anos 70 ou 80!

Acabo de me convencer de que, para não seguir moda alguma, precisamos andar nus como fazem nas praias de nudismo. Vai dizer que é moda também?

terça-feira, 27 de março de 2007

O Processo - Bnegão

Esta é uma música que toca na ferida; que, verdadeiramente, tem conteúdo; que condiz muito com o que penso.

Divirtam-se.

O Processo
BNegão
Composição: (Letra: Bnegão/ Música: Kalunga, Pedrão, Muzak, Pedro Garcia e Bnegão)


Esse som é sobre a ciência da persistência versus a preguiça e a descrença
Paciência é a sapiência do espírito
Viver no presente é a base, a chave para seguir bem na viagem
Evita o desgaste desnessessário durante o seu intinerário no planeta
Esse som é sobre o processo
O PROCESSO É LENTO

Rápido se monta uma moradia precária
Lento se constrói uma casa segura
Rápido a tv te entope de banalidades
Lento uma leitura certeira te dá um levante
Rápido se faz uma pixação
Lento se faz um grafite bem feito
Rápido uma moto se espatifa contra uma parede
Lento uma goteira contínua consegue perfurar a mais compacta pedra

O processo é lento (não tô dizendo que é fácil…)
O processo é lento
Tem que trabalhar, trabalhar feito um operário (só que sem horário)
O processo é lento
O desapego do resultado é importante
O processo é lento
O caminhar contínuo nessa vibe deve ser o modus operandi

Rápido se faz um aterro pra cobrir o mar
Lento o mar retoma de vez o seu lugar
Rápido se derruba uma árvore secular
Lento desenvolve-se uma planta curativa
Rápido a violência tenta se justificar
Lento se percebe aonde tudo isso vai chegar
Rápido o mundo acelera sua degradação
Lento, o novo pensamento vai dando sinais sutis da sua existência

Processo de justiça (lento),
educação (lento),
Processo é lento de informação (lento)
Percepção (lento)
Aprendizado (lento)
Processo é lento de evolução (lento)
Processo quase eterno de repetição, irmão
É por isso que eu digo, leva fé
A parada é essa, não tem outra
O negócio é seguir no melhor estilo conta-gotas
¨Numa relax, numa tranquila, numa boa”
Dentro das possibilidades, procurar a melhor opção
O processo é lento
Realidade não é sempre o que parece
O processo é lento
Aceitação e compreensão da situação baixa consideravelmente a taxa de stress
O processo é lento
Só segue quem se fortalece
Pega a responsa pra si, e é isso aí
O processo é lento
Sem ficar de guerri-guerri, sem ficar de ti-ti-ti
O processo é lento
Porque o processo é lento, mas é assim que a gente vai pra frente, cumpadi
O processo é lento
Procurando uma melhoria, um futuro um pouco mais descente
O processo é lento
É, o processo é lento, mas tamo nessa
Tá junto, tá junto.

segunda-feira, 26 de março de 2007

Precisamos falar e saber falar

“O português é uma língua muito difícil. Tanto que calça é uma coisa que se bota e bota é uma coisa que se calça”, declarou Barão de Itararé. Ninguém há de duvidar disso, porém “é necessário considerar que o domínio da norma culta é imprescindível para a garantia do exercício da cidadania”, filosofou minha professora Jeane Mari Spera.

Primeiro, por que é importante falar? Porque a língua é instrumento de libertação. Guimarães Rosa afirmou: “Todo ser, coagido a calar-se, comove”. Como Guimarães sempre se expressa de modo difícil, Brecht traduziu sua sentença: “Se os bois falassem, não iriam tão mansamente para o matadouro”.

Segundo, por que é tão importante “a gente aprendermos a falá como doutô”? Ora , há momentos em que podemos falar de qualquer jeito, por exemplo, em casa. E há momentos em que precisamos falar de modo formal para que os outros nos entendam, para que não prestem atenção no jeito de falar, mas sim no conteúdo da fala, como, em um júri. É claro, não podemos exagerar na formalidade, fazendo uso de várias palavras que poucos conhecem, nem abusar da informalidade, falando como uma criança dengosa.

domingo, 25 de março de 2007

Educação e Cultura II

Os vídeos abaixo, programa que foi ao ar no dia 17 de março de 2007, são a continuação do programa anterior. Nesta segunda parte, enfatizamos na cultura. Terminamos de dizer o que havia em termos culturais (festas, estabelecimentos) em Paraguaçu Paulista. Depois, falamos do que há atualmente aqui. E, para finalizar, dizemos o que virá e demos algumas sugestões para deixar nossa cidade mais rica culturalmente.
Divirtam-se.

Educação e Cultura - Parte 2.1

Educação e Cultura - Parte 2.2

Educação e Cultura - Parte 2.3

Educação e Cultura - Parte 2.4

sábado, 24 de março de 2007

Autoridade e Pobrismo

Reinaldo Azevedo, um blogueiro da revista Veja, escreveu um artigo sobre educação com esse título. Os pontos mais importantes, em minha opinião, são estes:

“O problema mais dramático das escolas é a baixa qualificação dos professores. O programa de Lula não toca no assunto. Tampouco estabelece uma diretriz a ser debatida com os secretários estaduais de educação. Como requalificar essa gente?”

“Qual foi o principal erro da tal regressão continuada imposta em São Paulo por Rose Neubauer — com o apoio do PT; não adianta agora dizer que não — e seguida por Gabriel Chalita? Solapar essa autoridade em nome da inclusão.”

“O que é pobrismo? Consiste em transformar as carências em um valor a ser exaltado, jamais superado.”

“Dizem que a reprovação poderá levar à evasão escolar. Se levar, que se responda, então, a esse novo desafio.”


Contudo, não deixem de ler o artigo:
Clique aqui.

Divirtam-se.

sexta-feira, 23 de março de 2007

Educação e Cultura

Os vídeos abaixo são um programa - que foi ao ar no dia 10 de março de 2007 - da rádio Marconi de Paraguaçu Paulista. Henrique Rosa e eu fomos chamados pelo apresentador, João Merlim, para falarmos um pouco sobre a Educação e a Cultura aqui de nossa cidade. Por ser um assunto complexo e extenso, o programa está dividido em algumas partes.

Espero que gostem.

Divirtam-se.

Educação e Cultura - Parte 1.1

Educação e Cultura - Parte 1.2

Educação e Cultura - Parte 1.3

Educação e Cultura - Parte 1.4

Educação e Cultura - Parte 1.5

quinta-feira, 22 de março de 2007

Definição de citação


"Citação: ato de repetir de modo errado as palavras alheias."

Ambrose Bierce, escritor norte-americano.

quarta-feira, 21 de março de 2007

Uma quase eterna luta

Hoje eu estava procurando um arquivo antigo no meu computador quando encontrei uma resposta bem simples para uma pergunta bem complexa. O que encontrei foi um trabalho feito em grupo na minha faculdade. Este trabalho foi inspirado em uma história real contada pelo professor Carlos A. L. de Lima.

Para quem quiser conferir a história, clique aqui.

Segue, agora, a resposta que meu grupo na faculdade deu à seguinte pergunta:

O que existe de fato: matérias difíceis, alunos “fracos”, professores ruins ou métodos inadequados de ensino?

Matérias difíceis não existem. O que existem são matérias com as quais o aluno tem pouca afinidade e, por isso, cria barreiras que dificultam a passagem de conhecimento por parte dos professores, muitas vezes mal remunerados e desinteressados.

Os alunos fracos existem, mas a culpa não é só deles. A culpa é da família que não o incentiva a pesquisar e a buscar o conhecimento; é das escolas que não oferecem uma estrutura que aperfeiçoe o aprendizado e desenvolva mais do que alunos gravadores, mas sim pensadores que saibam não só repetir fatos históricos decorados, mas também raciocinar, colocar suas idéias em ordem, dissertar e formar suas próprias opiniões.

Os estudantes não recebem uma boa educação básica, têm dificuldade de aprendizado e acabam desistindo de aprender, principalmente as matérias com as quais eles têm pouca afinidade, por não terem professores capacitados para perceber essa deficiência e ajudá-los. Isso acontece porque a maioria dos professores é desinteressada, e muitos tiveram suas próprias deficiências de aprendizado, até mesmo nas universidades, tendo, assim, os mesmos problemas que tinham como seus antigos professores. Portanto, cometem os mesmos erros.

Única coisa que faltou em meu trabalho foi falar um pouco sobre os métodos de ensino. Se pensarmos em método como apostila, sistema de ensino ou livros didáticos, não há método errado, inadequado. Agora, se pensarmos em método como maneira de transmitir um conhecimento (ou com música ou com aula expositiva), aí podemos pensar em maneiras mais eficientes, mas não em maneiras erradas ou inadequadas. Quem disse que um professor que utiliza uma música para dizer como tal operação matemática é feita é melhor que outro que apenas explica a mesma operação com giz e lousa? O que pode acontecer é o aluno que ouviu a música se lembrar com mais facilidade. Será? Mesmo o que não está interessado, que acha que nunca irá usar isso na vida?

Voltando, não há método inadequado ou errado. A não ser, claro, que o professor se recuse a dar aula ou não tenha interesse na lecionação (calma, não é neologismo. Há registro no Houaiss).

terça-feira, 20 de março de 2007

Diogo Mainardi on-line

Sei que não são todos que gostam do Diogo Mainardi, mas recomendo que ouçam dois arquivos de áudio dele.

No primeiro, ele faz um breve comentário sobre sua carreira e sobre literatura. Além disso, explica por que sempre fala do Lula.

No segundo, ele e “um tal de” Millôr explicam o resultado do último pleito.


E se quiserem, há muito mais na página da Veja: clique aqui.

Divirtam-se.

segunda-feira, 19 de março de 2007

Mapa da Maioridade


Mandaram para mim esse quadro que mostra a maioridade em quase todos os países. Por ter sido um assunto bem debatido nos últimos dias, acho que será útil para vocês.
Obs.: Clique na imagem para vê-la melhor.

domingo, 18 de março de 2007

Vídeos do Anglo

Há um site interessantíssimo do Sistema Anglo de Ensino (clique aqui para vê-lo). Na página inicial, na coluna da direita, há vídeos sobre História, Geografia, Física, Atualidades e muitos outros, todos produzidos por eles. Mas o destaque fica por conta da série Guia de Profissões que leva você a conhecer um pouquinho sobre as profissões e, conseqüentemente, pode ajudá-lo a decidir que carreira seguir. Se você já tem uma profissão, ainda assim recomendo que assista à série, pois, além de ser muito bem feita, nos mostra qual é a tendência de mercado e também trata de algumas questões polêmicas, por exemplo, a obrigatoriedade de ter um diploma em jornalismo para exercer esta profissão.

Observação: Não é necessário ser cadastrado para assistir aos vídeos.

Divirtam-se.

sábado, 17 de março de 2007

Site do IBGE

Foi adicionado em “Sites interessantes” o site do IBGE no qual você pode, com uma pesquisa simples e rápida, saber muitas coisas sobre todos os países, tais como: o número de habitantes, a porcentagem de pessoas nutridas, mortalidade infantil, etc., aspectos da economia e meio ambiente e muito mais.

O mundo em apenas um clique.

Chalita responde

Para não dizer que não ouço as duas partes, coloco aqui um link para a entrevista que o Chalita deu à Folha de S. Paulo.

E quero ressaltar algo que ele disse que não é nenhuma novidade, qualquer um que entende um pouco de educação sabe disso. Contudo, parece que ninguém [os políticos] se importa, não quer enxergar a pedra na qual estamos tropeçando há muito tempo.

“Falta o Estado convencer a família de que ela faz parte do processo educativo. O segundo ponto é investir mais na formação de professores.”

sexta-feira, 16 de março de 2007

E agora, o Chalita é o culpado de tudo é?

A equipe herdeira de Guiomar Namo de Mello na secretaria da Educação de São Paulo, e que, enfim, transitava entre os partidos comunistas, entre uma parte do resto do PMDB e uma parte do PSDB, está agora se defendendo do fracasso da educação paulista dizendo o seguinte: “foi a chalitização da educação paulista” que causou toda essa bagunça com a “progressão continuada”, não nós. Parece que o ex-reitor da Unicamp, o economista Paulo Renato, está ajudando também a disseminar essa versão. Tudo, agora, seria culpa do Chalita. O fantástico é que a equipe de Serra em educação (se é que ele tem alguma), nos bastidores, também está empurrando essa versão. Bem, em resumo, eis aí a estratégia: vamos crucificar o Chalita, que já está queimado mesmo, e de tabela vamos ajudar a queimar o Alkmin, para ele não tentar ser novamente candidato ao cargo que seria do Serra – o de futuro presidente do Brasil.

Tenho, então, de sair na defesa do Chalita. Sim, justo eu, que ataquei o moço o tempo todo, tenho de propor que se faça justiça. Vamos aos fatos. Chalita nunca poderia ter sido secretário da Educação. A visão dele é a de um escritor de auto-ajuda. E não há demérito nisso. Ele ganha dinheiro assim. Há professoras que acham ele “bonito”, acreditam que ele é o tipo do homem anunciado por Pepeu Gomes, o “homem feminino”. E ele próprio, Chalita, sabe que não entende nada de política educacional. Tanto é que seus escritos nunca tocam a política educacional, apenas a pedagogia. E a pedagogia dele é o que sabemos: “amor ali, amor aqui”. Ele vive de amor. Que fique bem claro: não tenho nada contra quem vende livro no estilo Paulo Coelho. E veja, há um mérito no Chalita que, para o meu gosto, eu já poderia dizer que ele foi o melhor que passou na secretaria da Educação com o PSDB: ele colocou de volta a filosofia e a sociologia no Ensino Médio. Pronto, já fez muito. O que fizeram os outros, do PSDB? Nada? Não, não, fizeram essa bobagem: implantaram a “progressão continuada” e, ao contrário do que pensa Saviani, a implantaram corretamente, pois o que fizeram era, sim, a idéia original. O erro aconteceu pelo fato de a idéia original ser uma idéia ruim, algo que dizem que existe em outros países, mas que é mentira. Não existe. Não existe a idéia e não existe o fato. A idéia, como ela apareceu nos documentos da secretaria da Educação de São Paulo e nos livros dos que a defenderam é um erro do começo ao fim. Ela pressupõe condições de vida e trabalho do professor da rede pública que nunca existiram e que não vão existir, preservada a via da política econômica brasileira, tanto a de FHC quanto a de Lula.

A progressão continuada era exatamente isso que a palavra diz: a escola é vista como excludente por fazer provas e avaliações que colocam de lado o aluno que não aprendeu, e então, em vez de fazer o aluno aprender, cria-se um sistema onde a esperança de que ele aprenda é postergada. Ora, onde existe isso no mundo? Em nenhum lugar. Em todos os lugares do mundo onde a educação é levada a sério o sistema meritocrático (e excludente, às vezes) é o que vinga. Mas então os países judiam de suas crianças, e colocam os pobres para fora da escola? Alguns sim, outros não. Onde as crianças tomam as avaliações como normais, como elas eram vistas no meu tempo de estudante, nada é assustador. O aluno sabe que tem prova e ele se prepara para ela e passa. Ele não é avisado, por manuais de pedagogia, de que o exame é excludente. E como ninguém conta isso para ele, ele faz o que nós fazíamos, estudávamos e passávamos. E isso era válido para o filho do rico, do remediado e do pobre. Quem nega isso em relação ao ensino dos anos 50 e 60 está mentindo propositalmente ou esqueceu do seu próprio passado, andou lendo estatística de pedagogo fraco ou de pessoas que não entenderam a exclusão como ela apareceu nos textos dos sociólogos franceses, como Bourdieu, por exemplo.

Nunca Bourdieu defendeu que deveria haver progressão continuada ou qualquer forma de facilitação na escola francesa por causa de que ela “reproduzia” as divisões sociais já encontradas na sociedade, e não fazia o que ele, Bourdieu, acreditou que os liberais prometiam a respeito da escola, que ela melhoraria a democracia social e econômica. Qual a razão de Bourdieu não fazer nenhuma defesa dessa “facilitação” que, estranhamente, Dermeval Saviani endossa ao endossar “a idéia de progressão continuada” e não a prática brasileira dela? Simples: o tempo escolar é finito e rápido. É necessário um país altamente voltado para a educação, em todos os seus setores, para que a escola desse país possa se dar ao luxo de criar mecanismos de ensino em que as avaliações não sejam capazes de classificar e hierarquizar as pessoas. Só as sociedades já altamente democráticas conseguiram isso. E mesmo elas, de vez em quando, temem estar afrouxando essa situação e retomam mecanismos classificatórios. Aliás, diga-se de passagem, mesmo nos Estados Unidos, sob a pedagogia de Dewey no passado, as escolas não escaparam de requisitar para si a capacidade de colaborar na hierarquização da sociedade. Tornar a educação, por conta de mecanismos de suavização dos gargalos de evasão e promoção, um elemento de favorecimento da democratização geral, nunca foi promessa dos liberais. A democracia, com a escola hierarquizadora, que a partir de certo momento diz “você não aprendeu, e vai ficar, e você aprendeu, e vai ser promovido”, não deixou de existir como política oficial dos países democráticos. Não conseguimos, ainda, no mundo todo, a convencer as crianças a estudarem “por gosto”. Os mecanismos de coerção, que podem parecer absurdos para alguns, só parece absurdos para estes que, enfim, eles próprios não puderam ter esses mecanismos incorporados por conta deles próprios não terem feito boas escolas. A meritocracia é um orgulho na França, na Noruega, no Japão, nos Estados Unidos, na Inglaterra e na Rússia. Era boa aqui também, para pobres e ricos, no meu tempo de estudante. Ganhar medalhas, mostrar que se é capaz de fazer um esforço e um sacrifício para “passar de ano” sempre foi um bom desafio para as crianças do mundo todo. E os ditos fracassados na escola não foram tantos na democracia quanto se imagina. Há fracassados na escola quando um país como um todo começa a fracassar. Isso é outra coisa.

A política educacional de Saviani, Rose e Guiomar, e que fez tudo que era errado com a “progressão continuada”, ora em teoria ora na prática, foi a herança que Chalita pegou. Ele continuou. Afinal, o que faria? E agora, Serra vai mudar algo? Todos já viram que não vai. E todos já viram que o PSDB na educação é esse jogo de cena aí: cada um joga a culpa no outro, sem quererem admitir que são todos culpados. Pois são um bando de irresponsáveis.

Paulo Ghiraldelli Jr.
“O filósofo da cidade de São Paulo”.
Site: www.filosofia.pro.br
Completo diagnóstico da Educação Brasileira em Gestão Educacional do mês de março. Assine em www.gestaoeducacional.com.br

quinta-feira, 15 de março de 2007

É NECESSÁRIO SENTIR-SE ÚTIL

Em um aprazível riacho, vivia um casal de salamandras muito querido na cidade, pois tratava todos com muito amor e delicadeza. O pai era um grande homem robusto com um bom emprego. A mãe, dona de casa, tinha dois filhos, e estava grávida, quase que em tempo de parir. Toda a expectativa em volta desse novo filho era normal (até certo ponto), porque o que eles desejavam, na verdade, era ter uma filha rica em beleza e em saúde.

No final da tarde de um ensolarado domingo, aconteceu o parto. Segundo a doutora cegonha, foi muito complicado, pois ainda havia uma menina para nascer depois de duas horas de cirurgia. Com toda sua experiência, pensou que não tinha mais nada para fazer. Na certa, iria nascer morta.

Porém, a graça de Deus veio e abundou todo aquele hospital e ela nasceu com vida e saúde. Não se sabe se foi por inexperiência ou por pouco caso, mas as enfermeiras pegaram-na de qualquer jeito e, por infelicidade do destino, não perceberam que lhe faltava uma perna.

Somente em casa, essa marca da sorte, ou da impossibilidade, foi descoberta. Por isso, a decepção e o constrangimento eram sentimentos que escorriam pelos olhos do casal. E, sem demora, a notícia se espalhou pela vizinhança.

Movido pela compaixão, o castor foi visitar a recém-chegada.

– Que graça é esta menina! – o bom castor exclamou.

O casal achou que ele estava debochando. Como poderia alguém achar graça em uma menina defeituosa? Contudo, logo explicou por que isso estava acontecendo:

– Meus amigos, a deficiência não é uma vergonha. Deus vos escolheu para cuidar dessa menina, porque se tivesse escolhido outro casal, talvez, ela não tivesse o amor e a atenção necessários para o crescimento – continuou.

Irresoluto, porém, procurando entender tudo, o pai concordou e agradeceu a visita deste velho sábio.

E foi após esse encontro que a casa voltou a ser feliz. Todos brincavam e riam sem se lembrar de que a pequena salamandra era especial.

Com o passar dos anos, cada irmão foi ficando responsável por algo. Um pela limpeza da cozinha, outro, pela dos quartos e, sem nenhuma diferença, a pequena respondia pelas roupas.

Sem demora, tornou-se o orgulho da família; as roupas cheiravam amor e limpeza. Todos a elogiavam, o que servia como um estímulo para ela se dedicar mais à sua obrigação.

Algum tempo depois, bem na hora dos primeiros raios do sol começarem a cortar o céu, um grito de alegria ou de pavor, não se sabe ao certo, na casa se ouviu. Correndo com o coração na mão, o pai e a mãe foram ver o que se sucedia. Era a filha que estava em frente ao espelho onde viu uma pequenina perna nascendo. É de conhecimento popular que as salamandras são dotadas de um alto poder de regeneração. Todavia, ninguém se lembrava.

Em um curto período de tempo, ela ficou perfeita, saudável e muito, muito feliz. Isso aconteceu porque ela não deixou de fazer sua obrigação, o que lhe dava forças para lutar e para vencer.

Por fim, toda essa experiência deixou marcas apenas na memória dos familiares, pois, na dela, tudo ocorreu normalmente. E o importante é que ela compreendeu que, para que a caminhada não seja muito árdua, ser útil é o melhor remédio.

quarta-feira, 14 de março de 2007

Qual a melhor solução para um problema?


Farei uma citação, mas não me lembro quem a disse, nem onde a encontrei. Portanto, se alguém souber, por favor, diga.

“Para todo problema há uma solução simples que normalmente é a errada.”

terça-feira, 13 de março de 2007

Resposta ao artigo da Veja II

Pedagogia da Confusão ou "Os erros de juventude de Ioschpe"
Você pode ser jovem, mas não precisa, por isso, não saber das coisas. A não ser que esteja falando de modo falso, por ser mau caráter. Qual das duas opções é a do jovem Gustavo Ioschpe?
Caso eu fosse um anti-americanista eu diria que sua formação nos Estados Unidos é que é a culpada dele não saber o que fala sobre educação em geral e sobre educação brasileira em especial. Mas não sou anti-americanista. Ao contrário, sou um filósofo que tem tudo a ver com os Estados Unidos. Por isso mesmo posso desmentir o jovem gaúcho que, em poucos anos de estudo, acha que pode fazer afirmações descuidadas na imprensa brasileira a respeito de educação. E, de fato, vou dizer o que ocorre com ele: os Estados Unidos possuem grandes filósofos, grandes cientistas mesmo, grandes músicos e atores. Todavia, quando seus economistas pensam sobre educação o que produzem é um rol de frases desconexas que dariam vergonha a um John Dewey. Aliás, em geral os economistas americanos são muito pouco informados sobre como lidar com a educação de um modo qualitativo, e eles têm uma velha ligação com a corrente de pensadores dos Estados Unidos que, desde 1957, quis retirar a educação americana de sua influência do liberalismo radical de Dewey. Os norte-americanos inteligentes do campo educacional que, enfim, não são ligados à economia, mas à filosofia da educação, não aprendem sobre o tema da educação mais nada que vem dos Estados Unidos quando o pacote é produzido por tecnocratas e economistas. Ao contrário, aprendem conosco. Por isso o livro Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, já ultrapassou nos Estados Unidos a vigésima edição. Todavia, nós aqui, só somos anti-americanos para rechaçar o que é bom dos Estados Unidos. Quando aparece o que devíamos descartar, nós absorvemos. E a moda agora é ouvir um Gustavo Ioschpe falar em nome do Banco Mundial coisas do seguinte tipo. Vejam:
“Dos estudos mais sérios sobre o assunto, depreende-se justamente o contrário: eles mostram que o professor brasileiro está longe de ser discriminado no mercado de trabalho. Esses profissionais recebem, no Brasil, o esperado para pessoas com as suas qualificações e com a mesma rotina de trabalho. Se a classe docente fosse realmente injustiçada, o magistério não seria uma das carreiras mais populares do país, com mais de 2 milhões de profissionais – número que só faz crescer.” (Gustavo Ioschpe, na Veja – podia ser outra revista?)
Paulo Renato e Delfim Neto são economistas. Quando eles puseram a mão na educação – o primeiro diretamente, o segundo de modo indireto – todos nós sabemos o que ocorreu. Houve privatização indevida, massificação sem cálculo e piora do sistema. Agora, mais essa novidade: um economista do Banco Mundial, extremamente jovem para ter as certezas que tem, começa a falar aos mais velhos, que o escutam por estranhas razões. Ele estudou, estudou, estudou e não aprendeu algo que os americanos ensinam bem: lógica. Ou aprendeu e usou o sofisma acima por má fé? Vamos desmontar o sofisma.
Vejam só: ele afirma que no Brasil os professores recebem o esperado, segundo o tipo de qualificação que eles possuem. Ele afirma, também, que se o magistério fosse injustiçado, não haveria crescimento da profissão, e no entanto, segundo ele, a carreira do magistério é a “mais popular no país”. A “lógica” do jovem é a seguinte:
Enunciado 1: o magistério recebe o merecido – ele quem diz isso, e ele assume como verdade.Enunciado 2: o magistério é a carreira mais popular no Brasil, só cresce – ele quem diz isso, e ele assume como verdade.Enunciado 3: caso 1 não fosse verdade e, então, o magistério poderia ser visto como injustiçado, então 2 não ocorreria, ou seja, as pessoas não procurariam a carreira do magistério.
Para um economista, o “raciocínio” acima mostra só uma coisa: ele está aquém da fase das operações lógicas, registrada por Piaget como uma idade mental de mais ou menos nove anos. Pois como que ele pode dizer que o fato de uma carreira não ser atraente, do ponto de vista financeiro, é o que determina seu crescimento em número de adeptos ou não? Qualquer exemplo poderia mostrar que isso é um erro crasso. Por exemplo: há o adágio popular que diz que “o crime não compensa” e, de fato, as estatísticas mostram que os criminosos, na sua maioria, não usufruem do que roubam; e os criminosos já assistiram bastante os filmes que mostram isso, mas isso não determinou nunca, em tempo algum e em lugar algum o aumento ou não do número de pessoas que pegaram a carreira do crime. Outro exemplo: o “boom” da informática no Brasil criou uma “bolha”. Em dez anos apareceram profissionais de informática no mercado e este não os absorveu para as funções que eles se formaram. Ainda assim, continua a ser uma profissão buscada por muitos jovens. E o número de advogados que o país forma? Eles vão advogar, vão passar no exame da OAB e vão viver da advocacia? Veja, então, o vestibular da UFSCar para a carreira de “Imagem e Som”. É concorridíssimo. É o vestibular mais concorrido do país. No entanto, o profissional de “Imagem e Som” vai trabalhar onde? Ora, os jovens não são tontos, eles sabem que estão optando por algo que não tem emprego! Mas eles estão optando por motivos outros que o financeiro – ao menos no momento. Eu poderia multiplicar os exemplos em que a determinação de uma escolha profissional ou, melhor dizendo, a escolha da busca de um diploma superior, em um país não está correlacionada com o que é mais atraente do ponto de vista financeiro. As pessoas fazem o que podem, não o que querem – todos nós sabemos isso. Todos, menos o Gustavo Ioschpe. E no caso do Brasil, bastaria estudar um pouco nossa história (ai de mim!) e ver como que a chamada “carreira do magistério” foi enraizada em nossa cultura feminina, por um lado, e como que no Brasil o diploma de professor (de Pedagogia, principalmente) é requisitado para tudo, não necessariamente para ser professor, por outro lado. Além disso, o diploma de Pedagogia é um do*****ento tido como “fácil”, exatamente pelo fato do curso em questão ter sido transformado em um curso massificado e descaracterizado, como o que está acontecendo agora, guardada as especificidades, com Direito e Administração. Só há uma única coisa que faz com que exista relação entre esses dois elementos, êxito financeiro e escolha de profissão: o cérebro vazio de quem imagina que possa haver relação. Ou o jovem economista fez o sofisma, mesmo sabendo que qualquer um iria vê-lo como um tolo, por ser uma pessoa má intencionada? Não! Não, não creio. Creio, mesmo, que é um caso de incompetência mesmo. E não me espanta que ele se apresente com títulos americanos – sei bem como esses títulos são tirados nos Estados Unidos e como é o tal “mestrado” lá. Gosto dos Estados Unidos e conheço a vida americana em detalhes. Títulos americanos não me enganam (nem os títulos franceses ou alemães, cada país tem o seu “jeitinho brasileiro”). Não estou dizendo que não estudou. Pode ter estudado sim – mais ou menos. Mas estudou a coisa errada e do modo errado. Economia? Não, não, isso é a parte mais fraca dele. Ele não tem raciocínio lógico correto, é capenga.
Não acredito em “teoria da conspiração”. Não acho que o Banco Mundial e o “imperialismo” pegaram o jovem economista como agente, propositalmente. Todavia, ele está servindo, sim, de agente. Não do “imperialismo”, é claro, mas da confusão. Ele é um agente da confusão. Ele, com sua formação acadêmica fraca, está servindo aos que querem negar que no Brasil há um descuido com o salário dos professores e, pior, um descuido que é de fato um ponto central na nossa política educacional. Então, nesse sentido, ele, querendo ou não, é uma pessoa que causa desgraça – é uma erva daninha. Ainda que de modo não intencional, ele serve exatamente aos que, no Brasil e no Exterior, preferem que nosso país continue como está em educação. Caso o MEC venha a escutar o jovem, pode querer propor a tal “capacitação em exercício”, ou seja, fazer com que os professores, já humilhados salarialmente, venham a gastar os fins de semana em cursinhos maçantes.Mas, vamos voltar, ainda, ao “raciocínio” do Gustavo. Os enunciados que ele coloca em jogo são da cabeça dele. Ele diz que tirou de “estudos”, mas não cita e, quando citar, duvido que vamos poder confiar. Pois veja o modo como ele enuncia números, que é o modo obliquo, para criar confusão:
“E nessa conta os docentes brasileiros aparecem numa situação mais favorável: enquanto eles recebem salário 56% superior à média nacional, nos países mais ricos a remuneração dos professores é 15% menor” (ainda o mesmo Gugu, na mesma Veja)
O que ele quer dizer? Ele faz um tortuoso esquema para dizer que os países mais ricos pagam menos aos seus professores do que o Brasil, proporcionalmente em relação ao salário médio nacional. Mas qual a razão dele, um economista, não ter fugido só da aula de lógica, mas também da aula de história? Sim, pois se ele tivesse estudado história (de lógica, já vimos, ele é ruim), ele não poderia comparar os países desenvolvidos conosco. Pois os países desenvolvidos já são desenvolvidos. Em geral, eles acabaram (ou reduziram muito) com o analfabetismo antes do final do século XX. Somente os Estados Unidos é que completou tal façanha no século XX. A Alemanha, por exemplo, antes mesmo de existir como país, tinha 0, 003% de analfabetos.
Quando olhamos os gastos de um país com a sua educação, temos de fazer isso olhando a história e vendo, também, a produção da literatura pedagógica do país. Qual a razão de tal comparação? Historicamente, países que possuem uma economia que não está em crise profunda (ainda que nunca seja uma economia em crescimento), e que possuem o problema educacional básico não resolvido, produzem muita literatura pedagógica. Os germânicos produziram isso nos séculos XVIII e XIX. Os Estados Unidos tiveram o maior filósofo da educação mundial do pré I Guerra – John Dewey. O Brasil deu ao mundo a produção de Paulo Freire após a Segunda Guerra. Vejam: isso é correlato ao fato do problema educacional ser percebido no país em questão, e o país ter condições, ao menos teórica, de resolvê-lo. Alguns, em tal momento histórico, investem e, então, a teoria e a prática se casam. Foi o que ocorreu na Europa no século XIX e nos Estados Unidos no século XX. Foi o que parecia que ia ocorrer no Brasil antes de 1964. Não é o que ocorreu no Brasil. Não é o que ocorre. Temos teoria, mas nossa prática não anda. E não anda exatamente pelo fato de que nossa teoria é barrada por pessoas como o Gustavo Ioschpe. Todos nós, da filosofia, dizemos: estamos de posse dos métodos, falta agora dinheiro para uma condição de vida boa para os professores e, então, vamos “fazer e acontecer”. Ora, nós, que amassamos o barro da escola pública, lecionando na zona rural e urbana nesse Brasil (coisa que o Gustavo não tem a mínima idéia do que é), sabemos que se o professor brasileiro tiver uma condição de vida um pouco melhor, damos um salto inimaginável. Mas o que acontece? Aparece aí alguém dizendo: não, não, não é essa a questão. Hoje, quem faz esse papel, é o Gustavo.
Gustavo Ioschpe não sabe nada disso, pois é muito menino. Mas eu já vivi bastante e estou há trinta anos pensando a filosofia e a filosofia educação no Brasil, e já passei por muitos momentos onde esse tipo de gente, como ele, é inflado pela mídia para criar confusão. É música nos ouvidos dos dirigentes e dos ricos o que ele fala. Não é à toa que ele apareceu nessa hora e fala o que está falando. Então, ele imagina que o êxito que está tendo, ao ser convidado para falar ali e aqui, é devido ao que ele estudou. Mas ele não estudou. Ele tem uma formação fraca – fica visível isso no sofisma que montou, acima exposto. E seu êxito advém do fato de que está falando o que alguns dirigentes – que não querem investir na melhoria de vida dos professores – querem ouvir. Mas isso passa. No futuro, vamos voltar a ler Paulo Freire, Anísio Teixeira, Monteiro Lobato, Fernando de Azevedo e, enfim, Gustavo Ioschpe desaparecerá. Mas enquanto puder, ele irá fazer estrago. Já apareceram outros iguais a ele no passado. Alguns, tivemos de botar para correr, pois iam acabar de vez com a profissão do magistério caso continuassem a falar.

Paulo Ghiraldelli Jr.“O filósofo da cidade de São Paulo”
Mestre e doutor pela USP em filosofia, mestre e doutor pela PUC-SP em filosofia da educação. Livre docente e Titular em História e Filosofia da Educação pela Unesp. Editor, em Nova Iorque, da Contemporary Pragmatism. Paulo Ghiraldelli Jr., entre tantos livros, publicou em 2007 o Filosofia da Educação (São Paulo: Ática, 2006), e em 2006 o História da educação brasileira (São Paulo: Cortez, 2006). É articulista da Coluna "Olho Grego", em filosofia, da Revista Filosofia, Ciência e Vida, da Revista Flash e, na revista Profissão Mestre, faz a coluna especial "Click Filosofia". É fundador e coordenador do GT-Pragmatismo e filosofia americana da Associação Nacional de Pós-graduação em Filosofia (ANPOF).

segunda-feira, 12 de março de 2007

Resposta ao artigo "Os quatro mitos da escola brasileira"

Gostaria de saber se o Gustavo Ioschpe realmente tem noção do que falou no artigo “Os quatro mitos da escola brasileira” publicado na revista Veja do dia 7 de março de 2007. Será que ele não se esqueceu de alguns pormenores, tais como:

1. Podemos comparar o salário de professor, que ele afirma que 70% trabalham 40 horas semanais, com o de soldador, que tem a mesma jornada de trabalho. O professor, quando recebe até que bem, ganha 10 reais a hora/aula, o soldador em uma grande empresa, ganha o mesmo tanto (fonte: Estado de São Paulo, Empregos, p.Ce4, 11 de março de 2007). Porém, lembremos que o professor não trabalha só na sala de aula, mas também em casa, preparando aula, corrigindo trabalhos e provas, coisa que o soldador não faz.

2. A importância da profissão.

3. A argumentação dele é baseada na comparação do Brasil, país emergente, com países ricos. Ora, primeiro, o PIB de um país rico é muito superior ao nosso. E, segundo, um país rico normalmente já tem uma educação boa, bem alicerçada, o que significa que não precisa de grandes investimentos.

4. A pedagogia é popular porque é um curso barato. E, pela falta de opção e incentivo para fazer outros cursos, acaba sendo bem procurada. Além disso, convenhamos que, como o exemplo acima, a maioria dos que têm um curso universitário ganha mais que um professor.

5.1. Se um professor ganha mais, ele não vai se submeter a uma jornada exaustiva de trabalho, e, conseqüentemente, dará suas aulas com mais disposição.
5.2. E se existisse um plano de carreira melhor? Não ajudaria melhorar o ensino? O que quero dizer é que toda a vez que o professor recebesse um título, ele ganharia mais. Exemplo, um professor que fizesse mestrado aumentaria seu salário em X% e se fizesse doutorado, aumentaria X+Y%. Será que a sua aula não melhoraria?

6. Não dizemos que a escola particular é excelente, apenas afirmamos que a maioria das escolas particulares é melhor que a pública.

7. Há certa dificuldade para o professor trabalhar em mais de um período, ainda mais na mesma cidade. Vejamos a razão: o município só permite que o professor trabalhe um turno. E o Estado também limita o número de aulas que ele leciona por dia. Sendo assim, necessário que ele passe em dois concursos para ser efetivo no ensino estadual e municipal, e podendo, assim, trabalhar em dois turnos. Não são raros os professores que lecionam em escolas estaduais e particulares.

8. Se investisse tanto na escola, haveria mais cursos de capacitação e especialização para os professores e para a direção da escola.

9. Se estamos interessado em formar cidadão é porque quem tem essa função (a família) já não consegue atingir a meta.

10. E quanto às crianças que têm bolsa para estudar em escolas particulares? Não são raras as que se saem melhor que seus colegas de classe.

domingo, 11 de março de 2007

Peça de teatro

Estreou ontem (11/03) a peça Revisão de Prova que discute a educação no dias atuais. Ela se passa em uma escola fechada em um sábado, onde dois professores (interpretados por Mário César Camargo e Miriam Mehler) corrigem provas e comentam sobre a educação. Sob a direção de Elvira Gentil, essa peça parecer ser bem interessante.

Exibida no Teatro Sérgio Cardoso – Sala Paschoal Carlos Magno, rua Rui Barbosa, 153, Bela Vista, 3288-0136, metrô Brigadeiro. 6ª e sáb., 21h; dom., 19h. R$ 10. até dia 29/04.

Sobre educação



"Não é com o Ministério da Educação que você deve se preocupar, mas sim com a educação do ministro."

Issac Stern

sábado, 10 de março de 2007

Entrevista do professor e intérprete Ulisses Wehby de Carvalho

Esta é uma entrevista do professor, intérprete Ulisses Wehby de Carvalho que tem o interessantíssimo blog. Espero que gostem, porque eu gostei muito.

Entrevista do Prof. Ulisses Wehby no Jo Soares - Parte5

Entrevista do Prof. Ulisses Wehby no Jo Soares - Parte4

Entrevista do Prof. Ulisses Wehby no Jo Soares - Parte3

Entrevista do Prof. Ulisses Wehby no Jo Soares - Parte2

Entrevista do Prof. Ulisses Wehby no Jo Soares - Parte1

Salários nas escolas de SP variam até 624%

Esta é uma pesquisa do jornal Folha de São Paulo a respeito das instituições particulares (escolas de Ensino Fundamental e Médio) que pagam mais que as faculdades e universidades. Imaginem, então, a diferença de salário e da qualidade de ensino entre as escolas particulares e públicas de Ensino Fundamental.

Este é o link para a reportagem completa (obs.: tem de ser assinante da UOL):

quinta-feira, 8 de março de 2007

Dom Barreto, 1º lugar no Enem

Saiu na Veja de 28 de fevereiro de 2007 (páginas 92, 93 e 94) uma reportagem sobre a escola mais bem classificada no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), Dom Barreto, que fica no Piauí – isso mesmo, essa escola não fica em São Paulo.

Aponto aqui as partes que mais me chamaram atenção. Contudo, recomendo a leitura do artigo publicado.

1) "A campeã no Enem demonstra na prática aquilo que os acadêmicos do mundo inteiro afirmam há décadas: investir nos professores é condição necessária para o bom ensino."

2) "A escola patrocina cursos de especialização e premia os melhores profissionais. "

3) "Oferece aos pais aulas em que eles recebem orientação sobre como ajudar no aprendizado dos filhos."

4) "O problema no Brasil é que as escolas estão atrás de algo que não existe: uma fórmula mágica para o bom ensino."

5) Uma professora, para dar conta de duas especializações e um mestrado patrocinados pela escola, teve a carga horária reduzida.

6) "Exige-se dos estudantes a leitura de vinte livros por ano."

quarta-feira, 7 de março de 2007

O Tédio Mata Nosso Ensino

Com a autorização do autor, coloco esta crônica em meu blog. Espero que gostem. Eu a achei muito boa.

O Tédio Mata Nosso Ensino
Especial para O Estado de S. Paulo
11/03/2006

Um professor do ensino fundamental ganha, por mês, entre R$ 300 e R$ 800 nas escolas paulistas e paulistanas. Qualquer um que tenha um carrinho de cachorro-quente na frente da escola, não aprovado pela vigilância sanitária, ganha mais que isso.A vida na escola é insuportável, no Brasil. O aluno adolescente ameaça fisicamente o professor. Se vier a se defender, o professor tem contra ele o juiz, o pai, o delegado, a mãe, o Conselho Tutelar do Menor e, enfim e mais decisivamente, a gangue à que o garoto pertence.
Os prédios escolares, então, são ambientes de 'filme catástrofe'. Computadores e vídeos, estragados, se existem, ficam empilhados em bibliotecas fechadas. O aluno de nariz sujo e o professor de 'chinelo de dedo' se misturam no martírio de um improvável aprendizado de conteúdo que ninguém justifica. O quadro se completa com a venda de roupas e bijuterias - um modo de sobreviver ali.
A estrutura do ensino? As autoridades não estão muito interessadas nisso. A professora sai da escola e, uma vez no transporte coletivo, toda suada, olha um outdoor com a foto do secretário da Educação do Estado de São Paulo. Em vez de encontrar um homem de terno e gravata, preocupado com a calamidade em que se encontra o ensino público, vê no cartaz um garotão com olhar esquisito e uma camisa rosa aberta no peito - com medalhão. Dá para acreditar? Pior: descobre que a pedagogia do dito cujo é a do... Paulo Freire? Piaget? Dewey? Não, não! É a 'do amor'. O secretário da Educação vende livros de auto-ajuda, livros de biografia da primeira-dama do Estado de São Paulo e, também, sobre a 'pedagogia do amor'.
E os pós-graduados em Educação? Os mestres e doutores em Educação ficam eufóricos quando algum sociólogo fala horas sobre a crueldade da 'globalização' e sobre a desgraça que, segundo tal cartilha, é fruto do tal de 'capitalismo'. Esse pessoal entra em êxtase quando o sociólogo (o mesmo) acusa o Banco Mundial de querer exercer o 'controle da educação do Terceiro Mundo'. Essa ladainha, eles, os mestres e doutores, repetem depois em suas aulas na Pedagogia e nos cursos de pósgraduação - há quase 30 anos! E ainda contam que não mudam porque 'ainda vivemos sob capitalismo', ou seja, os problemas seriam 'os mesmos'. No entanto, evitam ler o relatório a respeito dos empréstimos dos organismos internacionais para a educação nos países pobres. Pois, nesse caso, o Brasil é apontado como o país onde os recursos nunca conseguiram trazer os resultados positivos vistos nos outros países que receberam os mesmos empréstimos.
E os formadores de professores do ensino fundamental? Não sabem nem Matemática nem Ciências. Conhecem algo de História? Alguns conhecem. Geografia? Bem, nem há Geografia no vestibular da USP para entrar no curso de Pedagogia, sabiam? E Português? Bom, há vários professores mandando suas dissertações e teses para serem corrigidas por revisores que, enfim, são obrigados a refazer todo o texto. Mas o problema mesmo, sem dúvida, é a Matemática. Eles odeiam a Matemática e passam essa indisposição aos formados em Pedagogia, futuros professores das nossas crianças. Por isso o brasileiro não é 'analfabeto funcional', como dizem os estudiosos de hoje em dia, mas se torna com facilidade um preguiçoso mental: não gosta de Lógica e muito menos de Filosofia, quando esta exige rigor de pensamento e raciocínio lógico-matemático. O ódio da garota pedagoga pela Matemática é a base da mentalidade de nosso professorado.
O nosso ensino é apontado nas estatísticas como o pior do mundo. Nos exames mais recentes para verificação de habilidades de compreensão de textos e Ciências, aplicados por organismos internacionais, temos ficado nos últimos lugares, mesmo competindo com países muito pobres, como a Bolívia e o Equador. Mas os nossos gastos com a educação não são diminutos, como dizem por aí, comparativamente com o resto do mundo e guardadas as necessárias proporções.Todavia, entre todas essas mazelas há uma que determina a impossibilidade de pegarmos um fio da meada para tentar mudar isso. Trata-se da carreira do professor - os méritos da carreira.
No Brasil, o professor do ensino fundamental e médio não pode ser promovido financeiramente por conta de desenvolvimento intelectual, de um modo estranhamente diferente do que ocorre com o professor universitário. Não adianta ele melhorar intelectual e didaticamente, pois isso jamais será avaliado; seu salário não vai subir substancialmente e suas atividades não vão sair da rotina. O professor brasileiro não tem incentivo financeiro, ou mesmo de outra ordem, para crescer intelectualmente na atividade central de sua vida, que é 'dar aula'. Para ganhar mais ele só tem dois caminhos: a porta da rua ou a porta da sala - ambas para fora. Se não sai da profissão, é para ser diretor de escola ou supervisor de Ensino ou, então, para fazer mestrado e ir para o ensino superior, ou seja, para sair da sala de aula. Ficar na sala de aula e melhorar intelectualmente e, então, ser premiado financeiramente por isso não é uma prática no Brasil. Isso faz da atividade um tédio. Esse tédio mata nosso ensino.
Esse tédio é o que regra uma boa parte de nossa vida, uma vez que gastamos muito tempo sob tal situação, pois, se não somos professores, todos nós fomos alunos. Sendo ou não professores, somos vítimas disso, dessa desconsideração pela vida.

Deveríamos recusar-nos a tal sistema de degradação.

Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo
© 2006

terça-feira, 6 de março de 2007

Esclarecimento sobre os comentários

Resolvi moderar os comentários apenas para manter a ordem e a decência neste blog. Portanto, comentários com insultos, palavras de baixo calão, etc. não serão postados.

Contudo, quero ressaltar que este é um canal aberto para fazer críticas, expressar opiniões e compartilhar idéias, obviamente, tudo com ordem e decência.

Obrigado.

Abraço.

Em busca do amanhã

Era uma vez uma Tartaruga que queria sair de casa; ela achava que podia viver sozinha. Seu pai, já velho e muito sábio, disse-lhe para fazer o possível para ter um bom amanhã. Obediente, concordou com o pai, e, assim, saiu de casa.

Durante dias, sem pressa e muito paciente, a Tartaruga procurou o amanhã. Em lugares únicos, com água fresca e gramado verde, ela esteve. Por dias longos, com sol quente, ela passou sem se cansar. Porém, nada conseguiu achar.

Foi então que perguntou a um Tigre que estava ali por perto se existia um amanhã e onde ele estava. Surpreso com a pergunta, ele respondeu que existia sim, mas onde estava, ele não sabia. Contudo, querendo ajudá-la, o Tigre falou que ela tinha que correr, porque o amanhã se movia velozmente.

Assim fez a obediente Tartaruga. Os dias passaram, e ela se cansou; porém, curiosa, ainda queria encontrar o amanhã. Com o cair da noite, ela parou para dormir. Escolheu a melhor árvore e deitou em seu colo. Antes de dormir, uma Coruja ficou observando lá do alto, até a Tartaruga se sentir incomodada. Por fim, com raiva, ela gritou:

— Por que me olhas assim, não vês que não consigo dormir?

Porém, a Coruja continuou a olhar. E, então, já sem paciência, a Tartaruga falou:

— Por favor, pare de me vigiar, estou cansada demais e preciso dormir.

Desta vez, a Coruja vendo-lhe a educação perguntou:

— Por que estás cansada?

— Porque faz dias que estou procurando algo e não acho – respondeu.

— O que estás procurando?

— O amanhã, um bom amanhã. Antes de sair de casa, meu pai falou para eu fazer o possível para ter um bom amanhã.

A Coruja deu risada. Pensou um pouco e esclareceu:

— Tartaruga, Tartaruga,... o amanhã não foi feito para ser procurado e sim para ser construído com suor e determinação. Por isso que o amanhã é diferente para cada um.

Feliz da vida a Tartaruga pensou:

— Sim, existe o amanhã que eu perseguia, só preciso me empenhar para construí-lo.

segunda-feira, 5 de março de 2007

Saudações

Sejam muito bem-vindos ao meu blog que tem o intuito de refletir sobre a educação, no sentido mais amplo dessa palavra. Sintam-se à vontade para comentar, corrigir e fazer sugestões.

Abraço,
Vinicius

Será um problema atual?

O atual problema enfrentado no Brasil (o de os grandes se aproveitarem da população fraca e desorientada) não é exclusivamente da nossa geração. Podemos ver seus indícios já no nome proveniente da árvore Pau Brasil, explorada até quase ser extinta.
Portanto, só pelo nome, nota-se que somos frutos de uma colônia de exploração. E queira ou não, muitas vezes inconscientemente, pensamos em suas marcas, isto é, na escravidão, no desmatamento, na miséria e na fome. Às vezes, para tentarmos sanar essas mazelas e, em outras, para sobrevivermos. Temos aqui um bom exemplo para isso: o Programa Fome Zero. Nós pensamos e refletimos sobre ele, principalmente, durante as eleições. Muitos chegam a dizer que esse foi o diferencial do pleito de 2002. Porém, após as eleições, o idealizador desse programa disse não haver verbas suficientes para seu melhor funcionamento. Em outras palavras, infelizmente, demos nosso precioso voto, não para um presidente, mas sim para um programa que visava solucionar uma herança da época colonial. E, na hora de pôr em prática, ele não funcionou. Talvez, porque era um programa imperfeito. Entretanto, se o problema era a verba, para onde ela foi, então? Por que não foi direcionada para garantir a sua sobrevivência, leitor, ou a do Programa?
Por essas e por outras, hoje em dia, sai muito caro ser honesto, já que a tendência dos impostos é subir. Lógico, com tantos mensalões e mensalinhos que se tem de pagar para aprovar uma lei. Se voltarmos para o passado, vemos que isso é cultural, ou seja, o pagamento de “tributos” está enraizado em nossas famílias. Simplesmente porque nossa “independência” foi comprada. Não foi uma guerra sangrenta igual a dos Estados Unidos, cujos combatentes até atravessaram um rio praticamente congelado. E ficaríamos mais chocados se lembrássemos que D. Pedro I, nosso eminente rei, veio para o Brasil como um fugitivo. Deste modo, nossa dívida da independência, chamada agora de dívida externa, ainda está sendo paga. Contudo, não queremos estragar nosso dia pensando no passado.
Os políticos, esses, parecem gostar tanto de pizza que se esquecem de trabalhar. A segurança pública só prefere fazer o que é fácil: multa de trânsito, prender um ou outro. A educação, lastimável, pois querem enganar todos com a diminuição do número de analfabetos, no entanto sabemos que apareceu uma nova classe, a dos analfabetos funcionais e que o quadro da educação não mudou nada. Nossa sociedade quase não mudou também. Antigamente havia os senhores de engenhos, donos de latifúndios e os escravos, servos desses. Hoje temos os ricos - parece que cada cidade, sobretudo as de pequeno e médio porte, tem um dono - e a grande massa trabalhadora, os escravos, inventando a feijoada para conseguir viver.
Embora haja uma solução muito simples – a educação ou, ainda melhor, a capacidade de ler e tirar suas conclusões; ter uma opinião própria sem influência alheia – receio que o melhor para o Brasil seja nascer de novo.