segunda-feira, 16 de abril de 2007

Lingüística bombardeada

Será que existe uma pessoa comum, sem nenhuma deficiência, que não saiba contar uma experiência vivida no ano passado? E contar até 100?

Parece difícil, não? Imagine, agora, se existisse um grupo de pessoas que não saibam fazer essas coisas, o que aconteceria com a tese do lingüista Noam Chomsky: “a linguagem é uma capacidade inata de construir frases bem formadas”?

Vejamos, então, algumas partes que selecionei de um artigo que saiu na Folha de S. Paulo (16 de abril de 2006).

Tribo do AM causa guerra na lingüística

“Uma tribo de caçadores-coletores do sul do Amazonas está colocando lingüistas e antropólogos em pé de guerra. Segundo um pesquisador, a língua dos pirahãs, um grupo de 350 pessoas que habitam o rio Maici, perto da divisa com Rondônia, é tão excepcional que põe em xeque a principal teoria vigente sobre a linguagem humana. A tese, no entanto, é contestada por outros lingüistas.”

“Os pirahãs não têm palavras para cores. Usam apenas oito consoantes e três vogais. Não possuem mitos de criação, não têm tempos verbais, não fazem arte só sabem contar até três. Em 2005, Everett publicou no periódico "Current Anthropology" um artigo no qual afirmava também que a língua pirahã não tem recursividade, ou seja, a capacidade de formar sentenças encaixando uma frase na outra. Assim, um pirahã seria capaz de dizer "a canoa de João", "o irmão de João", mas nunca "a canoa do irmão de João". Como vivem numa sociedade extremamente simples, onde o que conta é a experiência imediata (o aqui e agora), os pirahãs, argumenta Everett, têm sua língua (e, portanto, seu pensamento) limitados pela cultura -um caso único.”

“Se Everett estivesse certo, o idioma pirahã seria um sério desafio à teoria da Gramática Universal. Desenvolvida pelo influente lingüista americano Noam Chomsky, a teoria afirma que todos os seres humanos possuem uma faculdade inata da linguagem, uma espécie de "órgão da linguagem" no cérebro.”

“Andrew Nevins, da Universidade Harvard, David Pesetsky, colega de Chomsky no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, e Cilene Rodrigues, da Unicamp, afirmam -com base em trabalhos anteriores do próprio Everett- que o pirahã não apresenta desafio à Gramática Universal.”

Não deixem de conferir o artigo completo:
clique aqui.
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Outro artigo sobre essa tribo do Amazonas saiu na Veja (18 de abril de 2007, p.90) com o título “O mistério dos pirahãs”.

O ponto que mais me chamou atenção foi este:

“para completar, os pirahãs não usam números e não sabem contar – têm uma única palavra, 'Hói', que significa um ou pequeno. A ausência da abstração aritmética entre os pirahãs foi estudada recentemente pelo lingüista americano Peter Gordon. Ele tentou pacientemente ensinar os indígenas a contar de um a dez, explicando a eles o conceito de números e sua utilidade no dia-a-dia. Não obteve nenhum sucesso. As pesquisas de Gordon confirmaram a teoria do lingüista americano Benjamin Whorf de que o idioma condiciona o raciocínio. Whorf, nos anos 30, afirmava que o ser humano só é capaz de formular pensamentos a partir de elementos que possuam correspondência nas palavras. Como os pirahãs não têm palavras que os façam chegar ao conceito de números, é impossível que entendam seu significado.”

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