segunda-feira, 12 de março de 2007

Resposta ao artigo "Os quatro mitos da escola brasileira"

Gostaria de saber se o Gustavo Ioschpe realmente tem noção do que falou no artigo “Os quatro mitos da escola brasileira” publicado na revista Veja do dia 7 de março de 2007. Será que ele não se esqueceu de alguns pormenores, tais como:

1. Podemos comparar o salário de professor, que ele afirma que 70% trabalham 40 horas semanais, com o de soldador, que tem a mesma jornada de trabalho. O professor, quando recebe até que bem, ganha 10 reais a hora/aula, o soldador em uma grande empresa, ganha o mesmo tanto (fonte: Estado de São Paulo, Empregos, p.Ce4, 11 de março de 2007). Porém, lembremos que o professor não trabalha só na sala de aula, mas também em casa, preparando aula, corrigindo trabalhos e provas, coisa que o soldador não faz.

2. A importância da profissão.

3. A argumentação dele é baseada na comparação do Brasil, país emergente, com países ricos. Ora, primeiro, o PIB de um país rico é muito superior ao nosso. E, segundo, um país rico normalmente já tem uma educação boa, bem alicerçada, o que significa que não precisa de grandes investimentos.

4. A pedagogia é popular porque é um curso barato. E, pela falta de opção e incentivo para fazer outros cursos, acaba sendo bem procurada. Além disso, convenhamos que, como o exemplo acima, a maioria dos que têm um curso universitário ganha mais que um professor.

5.1. Se um professor ganha mais, ele não vai se submeter a uma jornada exaustiva de trabalho, e, conseqüentemente, dará suas aulas com mais disposição.
5.2. E se existisse um plano de carreira melhor? Não ajudaria melhorar o ensino? O que quero dizer é que toda a vez que o professor recebesse um título, ele ganharia mais. Exemplo, um professor que fizesse mestrado aumentaria seu salário em X% e se fizesse doutorado, aumentaria X+Y%. Será que a sua aula não melhoraria?

6. Não dizemos que a escola particular é excelente, apenas afirmamos que a maioria das escolas particulares é melhor que a pública.

7. Há certa dificuldade para o professor trabalhar em mais de um período, ainda mais na mesma cidade. Vejamos a razão: o município só permite que o professor trabalhe um turno. E o Estado também limita o número de aulas que ele leciona por dia. Sendo assim, necessário que ele passe em dois concursos para ser efetivo no ensino estadual e municipal, e podendo, assim, trabalhar em dois turnos. Não são raros os professores que lecionam em escolas estaduais e particulares.

8. Se investisse tanto na escola, haveria mais cursos de capacitação e especialização para os professores e para a direção da escola.

9. Se estamos interessado em formar cidadão é porque quem tem essa função (a família) já não consegue atingir a meta.

10. E quanto às crianças que têm bolsa para estudar em escolas particulares? Não são raras as que se saem melhor que seus colegas de classe.

4 comentários:

Anônimo disse...

Bem Visão, apenas algumas considerações que eu gostaria que você analisasse:

1. Não ficou claro para mim o que você quis dizer no 3º período do argumento nº 4.

2. Erro de digitação no argumento nº 5.2 ("carreia").

3. Concordo com a posição do Ioschpe em relação ao fato de que os professores de uma forma geral, priorizam, ao menos na teoria, a formação de "cidadãos conscientes" em detrimento do ensino dos conhecimentos básicos - o nosso famoso "conteúdo" -, igualmente importantes na minha opinião (o que não é nenhuma novidade para você). No entanto, gostei da sua réplica ao dizer no argumento de nº 9 que a família delegou tal responsabilidade à escola e, por isso, cabe a nós enquanto professores, o papel de educadores na formação de tais cidadãos conscientes, assim como tem esse papel, por exemplo, um reverendo, um apresentador de programa de TV, um médico, um deputado, um instalador de calhas, um promotor de justiça, um participante do BBB 7, um gerente de banco, enfim, todos aqueles que também devem herdar o título de "educadores" tanto como nós, os professores, por fazerem parte da vida e/ou servir de exemplo a qualquer jovem estudante.

4. Também não ficou claro para mim a relação do argumento de nº 10 com a crônica do Ioschpe, apesar de completamente válido.

Anônimo disse...

Agora vamos às MINHAS considerações, que, na verdade, só irão complementar aquelas já feitas por você, Visão.

1. O 2º "mito" que o eminente economista quer derrubar ("A educação só vai melhorar no dia em que os professores receberem salário mais alto".) pode ser facilmente reerguido com os dados do último ENEM , incluindo-se aí o exemplo do Instituto Dom Barreto, de Teresina/PI.

2. Ele diz, ao "derrubar" o 3º mito ("O Brasil investe pouco dinheiro em educação".) que não há motivos para considerar a comparação do Brasil com países desenvolvidos inadequada, visto que a Coréia e a China - também consideradas nações em desenvolvimento - da mesma forma dispenderam de uma pequena parcela do PIB para alcançar um monstruoso salto no setor educacional, a partir da década de 70. Usando os dados numéricos do economista, em termos proporcionais, nós gastamos praticamente os mesmos 3,5% que a Coréia e mais que a China - que só lança mão de 2% do PIB para tal fim -, para conseguirmos resutados bem inferiores. No entanto, em VALORES ABSOLUTOS, esses 3,5% do PIB da Coréia e os 2% da China são muito maiores que os 3,4% do Brasil, uma vez que o PIB de tais países é maior que o nosso. Cabe lembrar que essas nações tiveram coincidentemente um grande avanço na economia, sobretudo a partir das décadas de 70 e 80. E, se isso não for suficiente, mostremos para ele mais uma vez o exemplo CONCRETO do Instituto Dom Barreto, que não se baseia em uma miríade de números flutuantes, confusos e inconclusivos. Não é nenhum exagero quando o Ghiraldelli diz que ele usa e abusa de sofismos para confundir o leitor.

Vinicius Tomazinho disse...

Henrique,

Primeiramente , muito obrigado pela sua participação.

1. Eu quis comparar a profissão de professor com uma outra qualquer que exige um diploma universitário. Sendo assim, penso que a maioria dos profissionais que tem um diploma ganha mais que um professor.

2. Já foi corrigido.

3. Belas palavras. Acredito que temos de nos adaptar a essa nova era da educação.

4. Ioschop afirmou que “90% de sua superioridade em relação à rede pública deve-se à condição socioeconômica de seus estudantes, que vivem num ambiente mais favorável”.

Anônimo disse...

Vemos uma derrama de "entendidos" publicando suas opiniões sobre Educação. Responder, criticar toda essa gama de idéias, visões de mundo me causa enfado; no máximo conversamos e procuramos nos divertir com os absurdos. Talvez seja essa a saída: não levar tão a sério o que somos e pensamos (metamorfose ambulante), menos ainda a intelectualidade brasileira, tão afoita em dizer o que pensa. Um pouco de ironia para temperar a nata.